segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Natal: um mito cristão verdadeiro


Há poucas semanas, com pompa e circunstância, o atual Papa mostrou-se novamente teólogo ao lançar um livro: “A Infância de Jesus”. Apresentou a versão clássica e tradicional que vê naqueles relatos idílicos uma narrativa histórica. O livro deixou os teólogos perplexos, pois a exegese bíblica sobre estes textos, já há pelos menos 50 anos, mostrou que não se trata propriamente de um relato histórico, mas de alta e refinada teologia, elaborada pelos evangelistas Mateus e Lucas (Marcos e João nada falam da infância de Jesus) para provar que Jesus era de fato o Messias, o filho de Davi e o Filho de Deus.
Para esse fim, recorrem a gêneros literários para apresentar uma mensagem, transmitida como se fossem histórias mas que de fato não passam de recursos literários, como, por exemplo, os magos do Oriente (representando os pagãos e os sábios), os pastores (os mais pobres e considerados pecadores por estarem às voltas com animais que os tornavam impuros), a Estrela e o anjos (mostrando o caráter divino de Jesus), Belém que não seria uma referência geográfica mas teria um significado teológico: o lugar onde, segundo as profecias, nasceria o Messias, diferente de Nazaré, totalmente desconhecida, onde Jesus provavelmente teria nascido de fato. E assim outros tópicos como detalhadamente analisei em meu Jesus Cristo Libertador (capitulo VIII).Mas tudo isso não é muito importante porque exige conhecimentos muito especializados.
Importante mesmo é compreender que face aos relatos tão comovedores do Natal estamos diante de um grandioso mito, entendido positivamente como os antropólogos o fazem: o mito como a transmissão de uma verdade tão profunda que somente a linguagem mítica, figurada e simbólica é adequada para expressá-la. É exatamente o que o mito pretende. O mito é verdadeiro quando o sentido que quer transmitir é verdadeiro e ilumina toda a comunidade. Assim o Natal é um mito cristão cheio de verdade, da proximidade de Deus e da familiaridade.
Nós hoje usamos outros mitos para mostrar a relevância de Jesus. Para mim é de grande significação um mito antigo, que a Igreja aproveitou na liturgia do Natal para revelar a comoção cósmica face ao nascimento de Cristo. Ai se diz:
”Quando a noite estava no meio de seu curso e fazia-se profundo silêncio: então as folhas que farfalhavam pararam como mortas; então o vento que sussurrava, ficou parado no ar; então o galo que cantava parou no meio de seu canto; então as águas do riacho que corriam, se paralisaram; então as ovelhas que pastavam, ficaram imóveis; então o pastor que erguia o cajado para golpeá-las, ficou petrificado; então nesse momento tudo parou, tudo silenciou, tudo se suspendeu porque nasceu Jesus, o salvador da humanidade e do universo”.
O Natal nos quer comunicar que Deus não é aquela figura severa e de olhos penetrantes para perscrutar nossas vidas. Não. Ele surge como uma criança. Ela não julga; só quer receber carinho e brincar.
Eis que do presépio veio uma voz que me sussurrou: ”Oh, criatura humana, por que tens medo de Deus? Ele não se fez criança? Não vês que sua mãe enfaixou seus bracinhos e seu corpinho frágil? Não percebes que ela não ameaça ninguém? Nem condena ninguém? Não escutas o seu chorinho doce? Mais que ajudar, essa criança precisa ser ajudado e coberta de carinho porque sozinha não pode fazer nada; não sabes que ela é o Deus-conosco-como nós?”
E ai já não pensamos mais mas damos lugar ao coração que sente, se compadece e ama. Poderíamos fazer outra coisa diante desta Criança, sabendo que é o Deus humanado?
Talvez poucos escreveram tão bem sobre o Natal, sobre Jesus Criança, que o poeta português Fernando Pessoa: ”Ele é a eterna criança, o Deus que faltava. Ele é o divino que sorri e que brinca. É a criança tão humana que é divina”.
Mais tarde transformaram o Menino Jesus no São Nicolau, no Santa Claus e, por fim, no Papai Noel. Pouco importam os nomes, porque no fundo, o espírito de bondade, de proximidade e de Presente divino está, de alguma forma, lá.
Acertado foi o editorialista Francis Church do jornal The New York Sun de 1897 respondendo a uma menina de 8 anos, Virgínia, que lhe escreveu: “Prezado Editor: me diga de verdade, o Papai Noel existe?” E ele sabiamente respondeu:
“Sim, Virgínia, Papai Noel existe. Isto é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção. E você sabe que tudo isto existe de verdade, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Como seria triste o mundo se não houvesse o Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virgínias como você. Não haveria fé das crianças, nem a poesia e a fantasia que tornam nossa existência leve e bonita. Mas para isso temos que aprender a ver com os olhos do coração e do amor. Então percebemos que não há nenhum sinal de que o Papai Noel não exista. Se existe o Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá sempre que houver crianças grandes e pequenas que aprenderam a ver com os olhos do coração”
Nesta festa, tentemos a olhar com os olhos do coração, pois todos fomos educados a olhar com os olhos da razão. Por isso somos frios. Hoje vamos resgatar os direitos do coração que é caloroso: deixar-nos comover com nossas crianças, permitir que sonhem e nos encher de estremecimento diante da Divina Criança que sentiu prazer e alegria ao decidir ser um de nós pela encarnação.
PS. Desejo aos leitores e leitoras de meu blog um Natal de esperança pois precisamos dela no meio de um mundo em voo cego rumo a um futuro incerto. Mas uma Estrela como a de Belém nos mostrará um caminho salvador. E chamaram Jesus de Emanuel, o Deus que caminho conosco.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Paranoid Android - Radiohead

Uma das minhas musicas preferidas, principalmente pela emoçao que o Thom Yorke passa na interpretação, que alias, é o principal requisito para uma boa musica (pena que nem todos seguem esse conceito).


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A educação NÃO precisa de respostas, precisa de INVESTIMENTO!



Desde 28 de agosto, o grupo RBS desenvolve uma campanha com relação à educação. Segundo os organizadores, o objetivo é promover o debate sobre o tema, em especial, no Rio Grande do Sul e em Santa Catariana. Uma campanha milionária, organizada 

e financiada pelo maior canal de comunicação privado do país, a Rede Globo.


Desde o início da campanha, foi realizado um bombardeio de "denúncias", as quais, em grande parte, recaem sobre a responsabilidade dos professores. A campanha tem o apoio governamental e já encontrou o responsável por todos os problemas: o professor.

Lamentável, mas compreensível, que na campanha não existam denúncias diárias sobre os descasos dos governos estaduais dos dois Estados (Santa Catarina e Rio Grande do Sul), tendo em vista quem são os organizadores. O Grupo RBS não denuncia o descumprimento de leis elementares: Piso Nacional do Magistério, fechamento de turmas, precarização total dos prédios públicos, abandono do investimento na construção de novas escolas, transferência de recursos e prédios públicos para iniciativa privada, além de desvios absurdos de recursos destinados à educação pública.

Estamos diante de uma investida dos meios de comunicação contra a Educação Pública, numa tentativa de privatizá-la de formas diversas, de modo que a opinião pública se sensibilize e apóie essa empreitada. Não é à toa que já foi lançado o edital de captação de recursos da campanha "A educação precisa de respostas", cujo objetivo é que a população apresente projetos de arrecadação financeira para manter as escolas públicas. Ou seja, "encontrar" outras formas de sustentar a educação, desresponsabilizando os governos e permitindo que todos os nossos impostos sejam destinados a outros fins, que não a educação de nossas crianças e jovens.

A Educação Pública é direito de todos e dever do Estado, logo é patrimônio de todos. Não a entregaremos a iniciativa privada, não sem luta e mobilização. Investimento público para a Educação Pública.

Clarice Erhardt
Professora da Rede Estadual de Educação de SC
Professora da Rede Municipal de Educação de Joinville
Coordenadora Regional – Sinte Joinville

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Emicida: Dedo na ferida

Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido pelo codinome Emicida, nasceu no berço do rap nacional São Paulo – SP, em 17 de agosto de 1985.


O nome “Emicida” vem da junção de “MC” e “homicida”, pois era considerado um “assassino” nas batalhas em que participava, por “destruir” seus adversários no Freestyle.
Emicida começou cedo, rimador por natureza, brincava com as palavras desde criança, e na medida em que foi crescendo desenvolveu seu talento e começou a mostrá-lo para os outros. “Era de brincadeira, mas, quando vi, eu já estava fazendo isso para as pessoas. Então, eu comecei a circular pelas batalhas da cena hip hop de São Paulo, quando percebi, estava fazendo show”, disse ele, em uma entrevista ao blog Conexão Periférica.
Desde criança o rapper sofreu com a injustiça do nosso sistema. Ainda pequeno mudou-se para o (bairro do) Cachoeira com sua família, onde, depois de anos, conseguiram construir uma casaMeses depois, foram notificados pela prefeitura de São Paulo com uma ordem de despejo. Além de sua família, muitas outras passaram e ainda passam pela mesma situação, e foi a razão pela qual Emicida apoiou os moradores do Pinheirinho em sua luta por moradia.
Emicida luta pela igualdade social, e expressa em suas musicas uma indignação que não é só dele, mas de todos os oprimidos da injustiça do sistema capitalista.
O rapper grava a suas músicas independentemente, com a sua gravadora “Laboratório Fantasma”, e não assinará com outras gravadoras, pois, segundo ele, nesse mercado cada artista é considerado um produto, além de que elas podem interferir na sua maneira livre de passar suas mensagens ao público.
Em uma de suas apresentações, Emicida foi preso por desacato a autoridade por defender a invasão do terreno Eliana Silva, e mostrar-se contra atitudes do governo de expulsar moradores (como os do Pinheirinho) de suas casas. Segue, os dizeres de Emicida, que antecediam a música “Dedo na Ferida”: “Antes de mais nada, somos todos Eliana Silva, certo? Levanta o seu dedo do meio para a polícia que desocupa as famílias mais humildes, levanta o seu dedo do meio para os políticos que não respeitam a população e vem com ‘noiz’ nessa aqui, ó. Mandando todos eles se fuder, certo, BH? A rua é noiz". 
O momento foi registrado em vídeo:

Na música “Nova Ordem” o rapper novamente se coloca a favor do povo, incentivando as lutas sociais como a da usina de belo monte.
Em outra composição sua com Real da Lima, chamada “Num é só ver”, ele fala da injustiça da divisão de classes.
Emicida é uma das maiores vozes do rap nacional, e é saudado pelo seu talento e maneira de expor as coisas.
A revolução é a verdadeira solução para todos os impedimentos desse sistema injusto, para que sejamos todos iguais, e finalizo nas palavras do próprio Emicida: “Ás armas companheiro, pela liberdade, só por ela”.
Dayane de Oliveira Pacheco

Manifestações estudantis no Canadá


“Minha perspectiva é que, a menos que os trabalhadores se unam a nós, a luta perderá força. Já vimos sinais disso”- afirma estudante canadense sobre as mobilizações estudantis

As mobilizações estudantis contra o aumento das taxas de matrícula nas universidades, em Quebec, província do Canadá já duram mais de três meses. O governo tem repremido o movimento se negando em atender a reivindicação dos estudantes de não aumento das taxas. Mais de 3000 pessoas foram presas durante os protestos. A última atitude repressiva do governo foi aprovar um projeto de lei que proíbe manifestações sem autorização, à lei 78. 


O jornal Luta de classes entrevistou o estudante da Concordia University, Brian Lapuz. Ele tem 21 anos e está no segundo ano do curso de jornalismo. Lapuz é militante da seção canadense da Corrente Marxista Internacional e participa da organização Socialist Fightback Student Association, em seu campus. 

Estudante de Jornalismo Brian lapuz



Os protestos começaram de que maneira? Poderia falar um pouco sobre como iniciaram? 

As taxas universitárias de Quebec permaneceram congeladas durante muitas décadas. Essa foi uma vitória dos movimentos passados. Em 2007, o governo decidiu aumentar as taxas de matrícula para 500 dólares até 2012. Houve uma greve, mas foi breve, não ganhou impulso porque as organizações estudantis não estavam unidas. Então, em 2010, o governo provincial falou sobre o aumento das taxas novamente. Poucos protestos foram realizados. Em março de 2011, o governo anunciou que o aumento seria de R $ 1625 até 2017. Organizações estudantis em massa prometeram um ano de mobilizações. Rumores de uma greve geral ilimitada para o inverno já estavam circulando para os próximos meses.

As manifestações foram espontâneas? Existe algum sindicato de estudante ou organização que impulsionou a luta? 

Se as três associações de estudantes (ASSE, FEUQ, FECQ) não estivessem unidas reivindicando um congelamento da taxa de matrícula, este movimento não teria sido tão forte. Os alunos são organizados em associações locais, mas são as coalizões que estabelecem as datas para manifestações de massa.

A educação no Canadá é pública ou privada? 

No Canadá, as universidades são principalmente públicas. Na província de Quebec, todas as universidades são públicas.
Como em outros países o desemprego vem atingindo os jovens no Canadá? 

Agora, a taxa de desemprego para os jovens entre 15 e 24 anos é próxima de 15%. Este número parece muito melhor do que em outros países da OECD, mas eu não tenho quaisquer dados sobre que tipos de trabalho são. Da minha experiência, a maioria dos jovens tem empregos de baixo salário, com poucas horas ou irregular. Muitos já têm dívida. Se eles vão para a universidade, essa dívida já está alarmante.

Quais dificuldades os estudantes enfrentam para acessar a escola pública? 

Em Quebec, temos as taxas mais baixas de matrícula do Canadá. Isso significa que temos mais alunos no ensino superior. Mais bolsas também estão sendo dadas para os alunos de camadas mais pobres. No entanto, muitos dos jovens pobres não terminam o ensino médio ou não tem qualidades para prosseguir o ensino superior. Muitos jovens de "classe média" têm pais que "tem dinheiro suficiente", segundo o governo, e não recebem quaisquer subsídios. A verdade é que muitos dos jovens têm pais com um monte de dívidas e não podem ajudar os filhos financeiramente. Isto é particularmente difícil para as pessoas que crescem em áreas rurais, porque eles devem se mudar para as cidades e pagar residência na escola ou um apartamento.

Qual é o valor das mensalidades e o que o governo está propondo? Alguns periódicos falam em um aumento de 75%, isso é real?

O aumento atual começou com 75% de aumento em 5 anos, o que significa 325 dólares a cada ano. Em 2017, este será um aumento de US $ 1625. Os números mudaram um pouco, mas não acho que muitos de nós sabemos os detalhes, porque a mudança foi muito pequena. Em 2006, as taxas de matrícula eram 1668 dólares por ano. Em 2011, foi de US $ 2168. Em 2017, deve fechar a $ 3793 por ano.

Além das altas Taxas de matrícula os estudantes têm outros gastos? Quais seriam? 

Além da taxa universitária, os estudantes também devem pagar "taxas" institucionais que dependem da universidade. Pode ser entre R $ 100 a $ 1000 por ano. Os estudantes também devem pagar pelos livros. Dependendo do seu programa, pode ser de US $ 50 a $ 600 por ano. Há também o aluguel é em média de US $ 300 a $ 600 por mês. O transporte público é de R $ 45 por mês para os alunos menores de 25 anos. Há também alimentos, roupas, atividades sociais, etc

O movimento está se organizando há bastante tempo? Qual é sua perspectiva? 

Agora está devagar porque é verão. Para os estudantes em greve, o semestre foi suspenso até meados de agosto. Os restantes dos estudantes viajaram de volta para casa ou estão trabalhando. Assembleias gerais cessaram até o segundo semestre. Minha perspectiva é que, a menos que os trabalhadores se unam a nós, a luta perderá força. Já vimos sinais disso.

Os estudantes têm conseguido apoio de outros setores, como os trabalhadores? 

Os trabalhadores têm mostrado um grande apoio. Há sempre contingentes de diferentes sindicatos de trabalhadores em manifestações. Muitos artistas de Quebec também manifestaram seu apoio inclusive usando o símbolo da luta (quadrado vermelho) em eventos públicos ou na televisão.

A lei 78, que limita as liberdades de manifestação foi aprovada durante os protestos? Qual argumento que os políticos a utilizaram? Poderia falar sobre isso? 

O movimento não respeita a Lei 78. Depois que a lei foi aprovada, as pessoas começaram a demonstrar batendo caçarolas em seus bairros. O que foi interessante é que muitas dessas pessoas não eram estudantes, eram mais velhos, pessoas da classe trabalhadora, idosos ou crianças. Também aconteceu uma grande manifestação em 22 de maio contra esta lei com cerca de 300.000 pessoas.

Quantos estudantes foram presos? A repressão tem enfraquecido o movimento?

Mais de 3000 pessoas foram presas. A grande maioria são estudantes. As maiorias das pessoas que são presas pagam uma multa de US $ 350 (ou menos) e são liberadas. É difícil dizer se isso está enfraquecendo o movimento, mas eu sou obrigado a dizer que não enfraqueceu o movimento. 

Mais de 3000 pessoas foram presas durante os atos
O atual governo é de que partido? Como é sua política em relação à classe trabalhadora e a juventude? 

O partido político atual é o Partido Liberal do Québec. Eles são um partido de direita e estão no poder há quase 10 anos. A classe trabalhadora e a juventude não tem suporte para este governo por causa da severidade do governo e redução de impostos para os ricos, os bancos e as corporações. Há também muitas denúncias de corrupção. Além disso, as pessoas não gostam de seu projeto de mineração chamado "Plan Nord" ou Plano Norte, que praticamente dá as multinacionais a liberdade os recursos naturais das províncias.
Existe algum sindicato estudantil que unifica os estudantes na luta por suas reivindicações? 

A CLASSE (Coalition large de l’association pour une solidarité syndicale étudiante ou Ampla coalizão da associação para um estudante de Solidariedade da União) representa 100.000 estudantes. Eles são os mais radicais. FEUQ / FECQ representam 180.000 estudantes, mas eles não são radicais.

Existem partidos de esquerda? Qual relação deles com o atual movimento? 

Há apenas um partido de massas de esquerda no Canadá, que é o Partido Neo-Democrata (NDP). Eles decidiram permanecer neutro durante este tempo todo. Mas, em Quebec, existe uma parte chamada Québec solidaire (QS). Eles defendem a educação gratuita e têm apoiado os alunos desde o início.

Como é o trabalho de nossa seção canadense? Onde intervimos? 

No Canadá, são principalmente estudantes e jovens, por isso, nosso trabalho é no campus. Na província de Quebec, os nossos camaradas estão nas linhas de frente do conflito e passam por muitos riscos, por conta da repressão. Nós admitimos que estamos ligados ao movimento. Nos últimos dois meses, demos alguns passos para trás para educar os nossos novos militantes. Nós também percebemos que as pessoas estão mais receptivas às nossas ideias. É muito fácil mostrar o nosso papel em manifestações de massa. Fora de Quebec, os nossos camaradas foram vistos com o trabalho de solidariedade e de ter forçado a CFS (Federação dos Estudantes do Canadá) a fazer algo. As pessoas estão falando de uma greve estudantil no resto do Canadá. 

Estudantes nas ruas do Canadá

Texto: João Diego
Tradução:Dayane de Oliveira Pacheco

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Clint Eastwood - Gorillaz

Um amigo me fez lembrar dessa música essa semana, quanto tempo que eu não ouvia Gorillaz...


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Nova Ordem - Projota, Rashid e Emicida (2011)

Viver a páscoa hoje

"A fé esvazia o sentido da ressurreição de Jesus quando não se pergunta pelas razões de sua morte. Ele não queria morrer, suplicou a Deus que afastasse dele aquele cálice de sangue."
(Frei Betto)


      Hélio Pellegrino, psicanalista e escritor, dizia que não há nada mais radical do que crer na ressurreição da carne, conforme professa o dogma cristão. E registrou isso no texto “Aposta pascal”.


      O que significa acreditar, hoje, na ressurreição da carne? Carne significa, para a doutrina cristã, a consistência material do Universo. Segundo o apóstolo Paulo, não apenas os seres humanos ressuscitarão com Jesus, mas toda a Criação (Carta aos Romanos 8).


      Por mais fantasiosa que esta crença ressoe aos ouvidos de quem não tem fé, o fato é que ela é a única possibilidade de derrotar o nosso inimigo inelutável: a morte. Essa dama da foice que, à luz da razão, diz a última palavra, ainda que a ciência se empenhe em prolongar a nossa existência (haja cirurgias e malhação!), é subjugada pela esperança de que há luz no fim do túnel.


      A Páscoa, na sua origem hebraica, é um fato político: sob o reinado do faraó Ramsés II, em 1250 a.C., liderados por Moisés, os hebreus se libertaram da escravidão no Egito. Basta isso para que, hoje, ela seja comemorada como incentivo a combater toda forma de opressão, preconceito e discriminação.


      Nascemos do mesmo modo, ao morrer teremos todos o mesmo destino e, no entanto, as desigualdades imperam em nosso modo de viver. Diferenças de condições sociais e culturais incutem em nós óticas deturpadas e, em geral, criminosas, em relação ao outro. É o caso do homem que se julga superior à mulher, do branco que discrimina o negro, do heterossexual com preconceito ao homo, do rico indiferente ao pobre.


      Exemplos atuais são a criminalização dos imigrantes pelos países ricos, a suspeita de que todo muçulmano é um terrorista em potencial, e os discursos eleitorais dos pré-candidatos republicanos às eleições presidenciais nos EUA.


      A Páscoa, para os cristãos, além do ato político encabeçado por Moisés, é sobretudo a proclamação de que Jesus, assassinado em Jerusalém por volta do ano 30 de nossa era, condenado por dois poderes políticos, venceu a morte e manifestou a sua natureza também divina.


      Uma fé que comporta a crença na divindade de um pregador tido como subversivo pelas autoridades de seu tempo, deve ao menos se perguntar: por que o assassinaram? Não era um homem tão bom? Não fez apenas o bem?


      A fé esvazia o sentido da ressurreição de Jesus quando não se pergunta pelas razões de sua morte. Ele não queria morrer, suplicou a Deus, a quem tratava com a intimidade relacional de filho para pai, que afastasse dele aquele cálice de sangue. Teve medo. Refugiou-se numa plantação de oliveiras. Preso, não negou o que fizera e pregara, e pagou com a vida a sua coerência.


      Assassinaram Jesus porque ele queria o óbvio. Este óbvio é tão óbvio que, ainda hoje, muitos fingem não enxergá-lo: vida em plenitude para todos (João 10, 10). Ora, não é preciso saber economia, basta a elementar aritmética, para se dar conta de que há suficiente riqueza no mundo para assegurar vida digna a seus 7 bilhões de habitantes.


      A renda per capita mundial é, hoje, de US$ 9.390. Porém, basta olhar em volta para ver nossos semelhantes jogados nas calçadas, catando lixo para se alimentar, morando em favelas, submetidos ao trabalho escravo. Basta ligar a TV para se deparar com o rosto cadavérico dos africanos famintos. Basta abrir o jornal para ler que 2∕3 da humanidade ainda vivem abaixo da linha da pobreza. E 20% da população mundial concentra em suas mãos 84% da riqueza global.


      Páscoa significa passagem, travessia. Domingo, nós cristãos iremos à igreja celebrar esta que é a mais importante festa litúrgica. E o que muda em nossas vidas? Vamos sair do nosso comodismo para ajudar a quebrar as amarras da opressão? Vamos deslocar a nossa ótica do lugar do opressor para encarar a realidade pelos olhos do oprimido, como sugeria Paulo Freire?


      É fácil ter religião e professar a fé em Jesus. O difícil é ter espiritualidade e a fé de Jesus.
                                              Feliz Pascoa!
    Autor: Frei Betto

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

sábado, 21 de janeiro de 2012

Emicida apoia as famílias do Pinheirinho e fala sobre a desigualdade social


Li, há alguns dias, o texto de apoio do rapper Emicida as famílias do Pinheirino, São José dos Campos (SP), que enfrentaram ameaças de ter suas casas demolidas, e, apezar da liminar de reintegração de posse  já ter sido suspensa, achei importante postar o texto dele aqui no meu blog.

Leia abaixo o texto do Rapper, do seu blog, postado no dia 22 de janeiro:



Às armas companheiro, pela liberdade, só por ela!


 


Lembro-me quando nos mudamos para o [bairro do] Cachoeira. Foram anos até conseguir ter um terreno para construir nossa casa. Detalhe: já havíamos passado por diversas situações de luta por um cantinho pra morar, lembro-me vagamente - na época ainda era um bebê - do que acabou por dar origem a bairros como a parte de cima da Ataliba, Filhos da Terra, o Pombal do Jaçanã, entre outros. Lembro dos acampamentos, das noites sob a lona preta, entre as cordas, sonhando que era ali que moraríamos, daquele dia em diante. Lembro de passeatas para Brasília, na qual minha mãe tinha que nos deixar sozinhos em casa e ir “pro front”, junto a nossos companheiros que também não tinham onde morar. A luta sempre foi uma constante para nós.
Mesmo após anos, mudando para o Cachoeira, com poucos meses na nova moradia, recebemos uma ordem de despejo, uma notificação, que dizia que em 15 dias todas as casas estariam no chão. Imagine-se recebendo uma carta da prefeitura após anos batalhando para construir sua casa, dizendo que eles estão chegando em 15 dias para a demolição? Desespero total, reuniões na recém-formada Associação de Moradores, enfim: sem informações ou meios a recorrer, abandonamos o local e fomos morar de favor na casa da família do meu padrasto. Minha mãe temia por nossas vidas, pois existia uma história de que na última desapropriação próxima das Furnas, muitos anos atrás, uma casa foi demolida com uma moradora ainda dentro que faleceu no desabamento. Coisa que ninguém duvidava devido ao fato de conhecermos a brutalidade dos braços da prefeitura/governo que se aproximam do povo.
Voltamos a morar no Cachoeira, todos os moradores voltaram, aos poucos, numa decisão unânime de lutar por seu lugar. Retornamos, vimos nossas casas demolidas, as refizemos com madeirite, ganhando a "cara" de favela. Água e luz irregulares, sem esgoto, e te falo: não acabou ali não. Foram inúmeras as vezes em que fizemos vigílias temendo que ateassem fogo ou roubassem nossos barracos, cordões humanos para que o mínimo de saneamento básico chegasse, pneus queimados parando a rodovia Fernão Dias contra a falta de segurança para os transeuntes que precisavam cruzá-la... Nada nunca foi noticiado, sofremos e lutamos em silêncio e, sempre, dali em diante passei a pensar em quantas famílias viviam as mesmas situações…
Hoje, vi a  fotografia dos moradores de uma região conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, São Paulo, e resolvi falar sobre isto, pois a história é cíclica, e ocorre em muitos cantos do nosso Brasil sem noticiamento algum e com desdobramentos mais violentos - vide as histórias recentes da criança indígena queimada por madeireiros, da marinha desrespeitando os quilombolas, veja o caso da Favela do Moinho em SP, incendiada criminalmente às vésperas do Natal, o projeto Nova Luz que visa desapropriar a região do centro para inserir nela “mais vida”. Estes são apenas alguns dos casos de maior repercussão midiática. Se formos estudar a fundo, realmente entramos no balanço da reforma agrária do ano que se passou e nos deparamos com outros inúmeros casos tristes de povos ribeirinhos/quilombolas/tradicionais que perdem suas comunidades em nome da especulação imobiliária, obras da Copa e tantos outros mega-projetos que tem ocorrido por aqui.
Senti orgulho de ver nossos irmãos no front e tristeza pela situação em si, que ainda muito se repetirá por nosso país. Meu desejo com este texto e com estas palavras, é enviar-lhes força, pois partilhamos do mesmo sonho, um Brasil sem desigualdade social, onde não exista tanta terra na mão de tão pouca gente, um país onde os mais pobres não tenham que pagar com o que não tem, pelas ideias bilionárias de quem pouco se importa com quantas vidas serão destruídas pela construção dos alicerces de seus edifícios. E ainda chamam isto de progresso! Na verdade até é: o termo progresso possui uma conotação ambígua, o que nos resta é lutar para que o termo possa ser empregado mais vezes com um sentido positivo.
Esta semana, coincidentemente, recebi o email de um companheiro do MST que me enviou a letra de “Num É Só Ver”, dizendo como esta letra trabalhava o tema com perfeição. Sincronicidade é foda! Nossos corações estão ligados a um mesmo sonho, a uma mesma luta, é involuntário que nossas poesias sejam um espelho disto.
Muito amor e todo apoio ao povo do Pinheirinho.
A rua é nóiz.
Emicida


Num é só ver
(Rael da Rima/ Emicida)


"Empresários perdem milhões
Pobres acham, devolvem
Barões matam nações
Que se refazem, se movem
Manipulam informações
Fodem!
Grandes populações
Que não se envolvem
Trancados em mansões
É, eles podem
Seguros das monções
Oh right, no problem
Epidemias, liquidações
Dormem pessoas simples nos barracões
Orem
Calam manifestações
Olhem
Por cifras, com vidas
Não estranhe que joguem
Atrás de notícias compradas
Se escondem
Sem dó tiram comida
De outro homem
Artistas fazem rir
Presidentes fazem chorar
Tiros são barulhentos
Mas não impedem de escutar
O canto dos que lutam pelo povo
Sempre vivo
Gente louca faz música
Gente séria, explosivo".